Em busca do princípio

Criacionismo e evolucionismo: teorias distintas que buscam explicar a origem humana diante das evidências encontradas a cada dia. O assunto gera discussões na mídia e chega às universidades. Qual será a posição das instituições de ensino diante destes questionamentos?


Isis Ribeiro e Patrícia Matter

O homem sempre procurou descobrir suas origens. Nessa procura não existem teorias corretas ou absolutas. Duas principais teses formam uma encruzilhada com caminhos distintos na explicação do suposto surgimento do mundo: o criacionismo e o evolucionismo.

O criacionismo é um princípio sustentado há milênios pelos cristãos. Para eles, o mundo foi criado por Deus em seis dias. Já o evolucionismo começou a ser divulgado na Europa no final do século 18, com o início do racionalismo, por Emanuel Kant. O racionalismo, como outras correntes filosóficas, aboliam a Bíblia e a religião. Mas é no século seguinte que essa teoria começa a ser difundida pelo filósofo e naturalista Charles Darwin.

Essa discussão sobre as teorias continua até a atualidade. O princípio da existência é motivo de muitas pesquisas, análises, investigações, debates e congressos. E esse chega às universidades. Confessionais ou não, todas se posicionam diante dessa polêmica.

Debate acadêmico

A palavra Kerygma, que em grego significa pregação, é o nome da revista eletrônica do curso de Teologia do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp). Essa mídia conta com a participação de alunos do curso, professores e pesquisadores da área científica. De acordo com o editor da revista e professor do curso de Teologia, Reinaldo Siqueira, esse site é um meio de divulgação científica e acadêmica do curso de Teologia. "Na revista existem entrevistas, resenhas de livros, artigos, monografias, teses e dissertações", esclarece. Os temas criacionismo e evolucionismo, conforme estabelece a linha editorial da Kerygma, são abordados de acordo com o viés da Igreja Adventista do Sétimo Dia. " É uma revista da Faculdade de Teologia Adventista do Sétimo Dia. Cremos no criacionismo, mas como se trata de uma revista de divulgação científica, abrange também uma visão ampla sobre o tema", explica Siqueira.

Conforme o editor, existe uma abordagem científica do criacionismo. Segundo ele, a ciência, na verdade, é neutra; o evolucionismo é uma teoria, assim como o criacionismo. "As pessoas acreditam que o evolucionismo é uma verdade inquestionável, mas na realidade é apenas uma teoria. O criacionismo usa os mesmos objetos de estudo que o evolucionismo. Sendo assim, se torna também uma teoria", declara.

O leitor da revista, Diego Ferreira, afirma que esse tema é relevante e sugere que seja mais debatido no veículo. "Poderia haver uma edição que falasse exclusivamente sobre evolucionismo e criacionismo. Seria interessante e proveitoso para todos os acadêmicos", ressalta. Já o jornalista responsável pela Kerygma, Wendel Lima, expõe o fato de haver poucos colaboradores na revista. "A Kerygma não é somente uma revista jornalística, ela também é acadêmica. Por isso, precisa da colaboração dos alunos para abordar temas como estes", propõe.

Lima também exerce a função de colaborador em uma coluna semanal sobre Arqueologia e Ciência no site Paraná Online (pertencente ao Grupo Paulo Pimentel). A seção retrata questões polêmicas que a mídia expõe sobre descobertas arqueológicas ou científicas. A veracidade histórica de termos ligados ao criacionismo é defendida na coluna através de pesquisas, artigos e entrevistas.

Evolucionismo em pauta

Segundo o doutor e professor de Microbiologia da Universidade Paulista (Unip), Alexandre Lourenço, o criacionismo não pertence a área da ciência e sim à esfera das religiões. "Não acredito nessa explicação para a origem da vida e distinção das espécies. Creio no evolucionismo, pois explica de forma consistente a diversidade da vida e as modificações das espécies", argumenta. Lourenço ressalta que não aborda diretamente o tema evolução, embora seja pano de fundo de algumas aulas, nos conteúdos relacionados a resistência às drogas, virulência de microrganismos e relação hospedeiro-parasita.

O historiador Gutenberg Melo, define a religião como um conjunto de princípios que não podem ser comprovados ou negados, por ter natureza metafísica. Já a ciência necessita de clareza e coerência em suas explicações, pois não se baseia em dogmas, nem numa idéia pré-concebida. Ele argumenta que não cabe julgar uma teoria ou outra, o objetivo deve ser compreender o que dizem. "Baseio-me em evidências e o que encontro de concreto são comprovações evolucionistas", enfatiza. Melo conta ainda que esse tema faz parte do conteúdo de pré-história e que cronologicamente já diverge do criacionismo.

Para o geólogo e professor do Unasp, Nahor Neves, a temática é exposta na mídia de maneira expressiva, mas de modo parcial e tendenciosa. "Esse assunto, que creio ser muito importante, tem sido abordado há 150 anos de formas parcial. Com relação às origens tem prevalecido apenas um modelo: o evolucionismo. Acredito que o criacionismo é mais coerente com a realidade dos fatos", defende.

Política editorial equilibrada

Na busca da imparcialidade, alguns preferem mostrar os dois lados do assunto. Esse é o caso da revista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ComCiência, que divulga trabalhos científicos com cunho jornalístico. “Não temos uma visão ou posição para defender, buscamos apenas contribuir com material relevante sobre o tema em questão”, esclarece o articulista da revista, David Santos Júnior.

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, (PUC-RS), prefere não divulgar nada relacionado à criação ou evolução. A editora executiva de comunicação da PUC-RS, Magda Achutti, da revista eletrônica Informação, ainda não abordou esse tema em suas edições. Ela relata que a universidade e a revista não possuem uma posição preestabelecida sobre o assunto.




Texto publicado originalmente no Canal da Imprensa

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