Um simples papel

Quatro anos. Milhares de entrevistas, reportagens, matérias, artigos. Tudo isso para nada. Mas em outro ponto de vista, pode ser tudo. A experiência adquirida na faculdade faz a diferença, se não, deveria. O debate em questão é a exigência do diploma para a prática jornalística. Mas poderia ser melhor. Será que as universidades fornecem subsídios suficientes para formar um profissional qualificado?

De acordo com a liminar promulgada pela juíza Carla Rister, o diploma superior em Jornalismo não é exigência para obter registro profissional. Mas a decisão final depende do Supremo Tribunal Federal (STF), que definirá o percurso da profissão até o final de 2008.
Enquanto a decisão não é divulgada segue o debate. Atualmente, a área de comunicação possui diversos funcionários que não possuem curso superior em Jornalismo. A prática formou a experiência desses profissionais que desempenham o cargo com competência. E essa mesma prática entra no currículo dos acadêmicos em Jornalismo? O bom jornalismo se faz com a vivência.

A validação do diploma deveria ser feito com base em exigências de prática profissional e qualificação plena do estudante na área. Talvez uma prova de análise de aprendizagem indicasse somente os capacitados a exercer o cargo. O despreparo, desinteresse e negligência por parte de muitos acadêmicos em jornalismo faz com que o diploma, na realidade, seja um simples papel.

Educação de mercado

Isis Ribeiro e Mariana Jósimo

A julgar por pré-conceitos, Inácio frança não deveria passar de um fanático por futebol e nada mais. Apaixonado pelo Santa Cruz, time da capital pernambucana, França mantém um blog dedicado ao time em parceria com outros amigos. No entanto, não para por aí. Além do time coral, outra de suas bandeiras é a educação. Formado em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco, França ocupa hoje o cargo de assessor de imprensa da Unicef em Recife.

Sua função na instituição é basicamente alimentar os veículos interessados em realizar matérias sobre educação através de novos dados e/ou números atualizados sobre educação. Nesta entrevista, ele analisa qual a postura da imprensa com relação ao tema educação nos últimos anos e comenta sobre o uso de cadernos didáticos e educativos direcionados para crianças nos jornais.

Canal da Imprensa - Você acha que os jornais abordam pouco os temas relacionados a educação?

Inácio França - Não é possível dar uma resposta genérica, pois há jornais e jornais. O problema não é exatamente a quantidade, mas o enfoque e o tratamento das matérias. Na maioria das vezes, o assunto entra na pauta quando há números/dados novos, que podem servir de 'gancho' para alguma matéria mais extensa ou por problemas agudos, como roubo de equipamento de escolas ou violência. Há exceções, é lógico. Lembro agora, a título de ilustração, de matérias sobre a precariedade do transporte escolar, que pressiona o poder público a encontrar soluções. Mas a questão da qualidade do ensino precisa entrar na pauta dos jornais e revistas em seus vários aspectos, principalmente no que se refere à educação contextualizada, que contemple a diversidade étnica e cultural. Esse enfoque é inexistente na mídia. Há pouco tempo, quando uma revista semanal tratou do tema da qualidade da educação foi no sentido inverso, fazendo uma pregação - o termo é esse: pregação - da educação como instrumento de manutenção de homogeneização cultural e manutenção do status quo.

CI - O trabalho desenvolvido pelo Unicef poderia ser mais divulgado em cadernos especializados nos jornais?

Inácio - O Unicef está empenhado para dar visibilidade a alguns princípios que nos são casos, como a questão da educação contextualizada, bem como educação integral e de qualidade. É preciso deixar claro que, hoje, o Unicef trabalha para disseminar políticas públicas e não com projetos isolados. Aliás, deixar isso claro para o público, é um dos nossos desafios.

CI - Como a mídia impressa de Pernambuco divulga os projetos educacionais?

Inácio - Os jornais pernambucanos não são diferentes dos jornais nacionais. Infelizmente. A busca sôfrega por 'números novos' baliza boa parte da cobertura. A denúncia pela denúncia, beirando o sensacionalismo também faz parte da rotina dos meus colegas jornalistas. As boas práticas conquistam as páginas quando se referem a projetos isolados. As redações ainda não conseguem compreender o conceito de políticas públicas. Curiosamente, durante greves de professores, por exemplo, há uma tendência à demonização do movimento grevista, como se os baixos salários dos professores não tivesse qualquer ligação com a qualidade do ensino.

CI - Você costuma colaborar com reportagens ligadas a temas educacionais?

Inácio - Atuar como assessor de imprensa é uma das tarefas do oficial de comunicação no Unicef. Alimento os veículos de comunicação interessados em produzir matérias sobre educação. Esse trabalho pode ser o fornecimento de dados atualizados, extraídos dos bancos de dados oficiais, a identificação de especialistas para analisar esses dados ou a triagem de informações sobre os resultados obtidos pelos parceiros ou nos municípios que participam da iniciativa Selo Unicef.

CI - No Brasil são poucos os jornais que possuem versões infantis com passatempos didáticos e educativos. Você acha importante esse tipo de encarte voltado às crianças?

Inácio - Esses encartes são ferramentas interessantes para despertar o gosto da leitura nas crianças e como material para-didático a ser utilizado pelo professor em sala de aula. Infelizmente, nos três estados que correspondem à área de atuação do escritório do Unicef em Recife (Pernambuco, Alagoas e Paraíba), apenas um jornal possui um caderno desse gênero.

CI - De que forma esses cadernos direcionados exclusivamente para as crianças pode ter um papel formador e educacional?

Inácio - Minha resposta é um complemento da resposta anterior: o texto e a diagramação adequados à criança ajuda bastante a formar leitores, a criar intimidade entre a criança e a palavra escrita, entre a criança e a mídia. Todavia, escrever para crianças é um desafio para jornalistas, que não recebem formação para isso.

CI - Existe necessidade de a mídia abordar mais sobre o tema 'Educação'?

Inácio - Sim, existe. Mas existe também a necessidade de abordar com outros enfoques. Não basta cobrar do Poder Público uma educação 'capaz de atender ao mercado', ou seja, uma educação que forme consumidores. Isso é um clichê na mídia impressa. É preciso abordar a necessidade da educação para formar cidadão, capaz de contribuir para o desenvolvimento humano.


Texto publicado originalmente no Canal da Imprensa

Educação para todos

Isis Ribeiro e Mariana Jósimo

A Educação no Brasil é um assunto muito amplo, porém pouco discutido. Essa afirmação se comprova pelo fato de que o assunto é escasso na mídia impressa. Entre os fatores que contribuem para que a educação não tenha o devido espaço nos jornais é o desinteresse dos jornalistas em especializar-se nessa área. Outro ponto a considerar é a manipulação do conteúdo abordado. Para a doutora em educação e coordenadora da Ação Educativa, Mariângela Graciano, existe a predominância de pautas estabelecidas pelo governo. “Isso trás muitos problemas, pois há assuntos e também pessoas que tem direito a educação e não ganham espaço”, comenta.

A doutora fala ainda que os temas abordados devem ser aqueles que falam sobre educação com diferentes etnias. “Para existir uma cobertura justa, a imprensa deveria dar espaço e mostrar os direitos dessas classes. Poderia abranger o tema educação voltado para esses grupos”, sugere.

O assessor de comunicação do Unicef de Pernambuco, Inácio França, também recomenda alguns assuntos a serem discutidos pela mídia. “Seria ideal abordar a necessidade da educação em formar cidadãos conscientes e capazes de contribuir para o desenvolvimento da sociedade”, expõe.

Os temas atuais em questão explorados pela mídia dirigem-se ao ensino médio e parcerias entre poder público e iniciativa privada. Mariângela observa que o assunto mais explorado sobre o ensino médio refere-se à preparação para o vestibular. Ela conta que existe uma seqüência abordada pela imprensa que reflete sempre no mesmo ponto: o despreparo dos jovens candidatos a partir dos débeis resultados. “A mídia não discute o porquê que eles não aprenderam a ler e escrever como devem. É necessário ouvir o corpo docente para entender os reais problemas. Caso contrário, a política jamais avançará”, argumenta.

O texto “Reflexões e recomendações sobre a cobertura da educação na imprensa escrita nacional” publicado no trabalho de análise “A cobertura da educação na mídia”, em dezembro de 2007 pelo Observatório de Educação, explicita a idéia da diversificação de fontes jornalísticas para área educacional. Os autores mostram que depoimentos das organizações da sociedade civil, comunidade escolar, centros de pesquisa e universidades são importantes para o conhecimento de temáticas ausentes do repertório comum. Mas o acesso a essas fontes não é viável quanto se imagina. Principalmente aos professores. A doutora Mariângela revela que no estado de São Paulo e outros 17 estados do Brasil existe uma lei de funcionalismo público que proíbe o professor de dar entrevistas. “Em São Paulo, essa lei é de 1968. É uma lei anterior a constituição, antes do período da ditadura”, indigna-se.

Sem o auxílio de pedagogos e conhecimento prático na área, os jornalistas seguem no desafio de escrever para um público praticamente desconhecido. Por tais motivos, existem poucos jornais que possuem versões infantis com passatempos didáticos e educativos. França reforça a idéia de que escrever para crianças é um desafio para os jornalistas. De acordo com o assessor, os complementos infantis ajudam na educação e formação da criança. “O texto e a diagramação adequada aos pequenos ajudam a formar leitores, a criar intimidade entre palavra escrita e a mídia”, esclarece.

Educação e mídia sempre será um tema em debate por pesquisadores, educadores, doutores e também jornalistas. Mas o fundamental está na diversificação e divulgação adequada dessa questão importante para a sociedade. Há necessidade em discutir mais sobre a educação básica como componente de um todo. Segundo Mariângela, existe também outro lado essencial no processo de discussão. “É necessário ter a noção de educação como um direito. Deve-se incluir temas e grupos vulneráveis que também estão fora da cobertura”, conclui.


Texto publicado originalmente no Canal da Imprensa

Telefone público é mira de vândalos

O telefone público, popularmente conhecido como “orelhão” é alvo de vandalismo na maioria das cidades do estado de São Paulo. Porém, essa prática pode trazer diversas conseqüências. Em Artur Nogueira a depredação cresce, mas a reposição dos aparelhos é deficiente e causa transtorno para a população. Entre os efeitos do vandalismo está o prejuízo financeiro para a empresa prestadora do serviço público, pena judicial para o depredador e falta de aparelhos em diferentes lugares da cidade.

O advogado Carlos Hess explica que o orelhão é um patrimônio público. “Conforme o Código Penal, destruir patrimônio da União, Estado, Município ou de empresa de serviços públicos é crime” esclarece. Ele afirma também que ao flagrar o infrator, este será preso e poderá ser condenado de seis meses a três anos de detenção.

Em Artur Nogueira, os vândalos agem em bando e isso dificulta o trabalho da Polícia Militar. O cabo Claílson Vitória elucida a importância das pessoas denunciarem quando virem um ato de depredação. Ele conta que a Polícia Militar de Artur Nogueira desenvolve um projeto com alunos do sexto ao nono ano do ensino fundamental da escola Josephin Tagliari. “O programa ‘Jovens construindo a cidadania’, discute sobre depredação e conscientiza os adolescentes em relação ao ato”, explana.

Mas nem todos os jovens são orientados quanto ao assunto. A dona de casa Zélia da Silva Arruda comenta que já presenciou a destruição de um aparelho telefônico. “Para denunciar tive que usar o mesmo telefone, mas não pude concluir a ligação devido ao estrago feito pelos meninos”, exalta.
O industriário Paulo Alcântara reclama sobre a falta do conserto dos telefones danificados. “No bairro onde moro tem apenas dois orelhões. Quando ligo para a empresa de telefonia, eles garantem que mandarão técnicos, mas isso não acontece”, indigna-se.

A empresa responsável pelos telefones públicos no Brasil é a Telefônica. Na região metropolitana de Campinas, o serviço de manutenção e instalações dos orelhões é feito por uma empresa terceirizada, a Alfapress. Após contato com as empresas, a assessoria de imprensa da telefônica e da Alfapress não quiseram se pronunciar sobre o assunto. A Polícia Militar de Artur Nogueira recomenda que o usuário, ao presenciar um ato de depredação, entre em contato com a Telefônica através do número: 103-15.

Jornalismo Popular (Márcia Franz Amaral)

AMARAL, Márcia Franz. Jornalismo Popular. São Paulo: Contexto. 2006; 141 páginas.
Jornalismo Popular, o livro escrito pela doutora em Comunicação e Informação, Márcia Franz Amaral discute o tema popular no cenário sensacionalista. A autora aborda fatos da história do jornalismo popular em contexto mundial e nacional. Definições do termo sensacionalista, comparação de jornais com o significado do sensacional e análise do público alvo também estão presentes na pesquisa.

Márcia explica a origem e relação do termo “sensacionalista” com jornais populares. A ligação do sensacional ao jornal feito para classes de baixo poder aquisitivo dá-se ao fato de jornais, como o Notícias Populares (NP), atualmente fora de circulação, fazerem um simples acontecimento se tornar extraordinário. O NP abusava do sensacionalismo e estampava nas páginas reportagens relacionadas ao sexualismo e violência. Faltava conteúdo dito “sério”. Pelo fato do NP ser um jornal com público alvo de baixa renda, a regra foi estabelecida: todos os jornais populares são sensacionalistas. Esse é o pensamento pré- estabelecido por muitos comunicadores e leitores. Mas essa linha de opinião é quebrada pela autora que destaca a relevância da análise antes do julgamento de determinado segmento.

Falar ou escrever para as classes C e D não significa distorcer fatos, apelar para sexualismo, violência e mau gosto. Pode-se elaborar um jornal que informe, divulgue e critique sem usar esses métodos distantes do objetivo de prestação de serviço. Aliás, o jornal popular relaciona-se mais próximo do público alvo e a função de prestação de serviço é muito clara e presente. Não se deve apenas classificar um jornal como sensacionalista pelo simples fato de expor na seção de entretenimento, por exemplo, fofocas de artistas e mulheres com poses sensuais. Isso vende. E por esse motivo os leitores são atingidos a comprar. Mas o cidadão que compra o impresso, além de encontrar sensualismo, acha também reportagens, matérias e informativos relevantes para o contexto social em que vive. O questionamento presente e decisivo encontra-se então, na qualificação adequada para distinguir uma mídia sensacionalista da que não se enquadra na questão.

De acordo com Márcia, o fato que diferencia um jornal sensacionalista dos demais é a intensidade. A afirmação de que o sensacionalismo é o grau mais intenso a fim da comercialização da informação possibilita uma análise dos jornais que se encaixam na situação. O termo sensacionalismo é citado por diversos autores, segundo concepções variadas, porém a definição encontrada em “Jornalismo Popular” é a que melhor define a partir da contextualização dos jornais nacionais. A autora define perfeitamente o termo ao afirmar: “... o sensacionalismo está ligado ao exagero; à intensificação, valorização da emoção; à exploração do extraordinário, à valorização de conteúdos descontextualizados; à troca do essencial pelo supérfluo ou pitoresco e inversão do conteúdo pela forma”.

O jornalista Alberto Dines, citado por Márcia, destaca sobre o processo sensacionalista e afirma que ele acontece em todo tipo de imprensa. Ele divide o sensacionalismo em três grupos: gráficos, lingüísticos e temáticos. A autora cita também outros autores e comunicadores e faz um embasamento relevante diante do assunto. Na associação do sensacionalismo com o popular, pode ser formado outro estereótipo. Este se define no pressuposto de que popular e sensacional estão ligados e presentes exclusivamente na mídia impressa. Mas, os programas de televisão também são mencionados no livro e caracterizados como mais “intensos” do que os impressos.

O que a autora pretendeu com a publicação foi quebrar o paradigma que estabelece regras e dita críticas pouco fundamentadas sobre o “novo” formato de mídia impressa, o popular. O livro faz com que os comunicadores desenvolvam um pensamento crítico a fim de analisar contextos e a mídia totalitária, não apenas em fatores isolados.