Politicagem para o povo

Tomate neles! Essa expressão poderia ser o brado da nação que desabafa diante das tramóias da classe política. Como confiar num governante diante de tantos escândalos? A política abordada na mídia é movida ao trivial: CPIs, falcatruas, desvios... Com tantas notícias relacionadas ao descaso dos governantes pelas necessidades do povo, a resposta se faz com igualdade: desinteresse da população pelos fatos políticos.

Isis Ribeiro, Elkeane Aragão, Mariana Jósimo e Luzia Paula

O desinteresse do povo em relação a política é algo preocupante devido ao crescente índice de escândalos que envolvem os governantes. A população bloqueou-se diante dos “ataques” vindo de lideres políticos. Desvios de verba, compra de voto, superfaturamento de obras, descaso aos problemas sociais, entre outros. Esses são alguns itens que trazem desilusão ao povo referente ao contexto político.

A Revista Veja do dia 31 de janeiro de 2007 estampou em sua capa a projeção de um tomate podre referente a palavra “Políticos”. A matéria da capa explicitava a opinião popular diante dos freqüentes escândalos políticos no Brasil. A reportagem afirmou que existe um abismo entre o povo e a política. Em denominação, este “abismo” se faz devido aos variados tumultos parlamentares.

Em dados encomendados ao Ibope pela Veja e divulgados na revista, constatou-se a visão popular dos políticos. Segundo a pesquisa, apenas 3% dos brasileiros acreditam que os congressistas representam e defendem os interesses da sociedade. Em contrapartida, a maioria dos brasileiros, 84%, acham que os parlamentares trabalham pouco. Entre os termos usados pela população para adjetivar os políticos estão: desonestos (55%); insensíveis aos interesses da sociedade (52%); e mentirosos (49%). O sociólogo Demétrio Magnoli, também expôs a opinião na reportagem e revelou que esses números não causam espanto. "São fruto do atual estado de degradação moral do Parlamento", declarou.

O cientista político da Universidade de Brasília, UnB, Octaciano Nogueira afirma para Veja que os brasileiros possuem memória curta. “Sete em cada dez brasileiros declaram não lembrar o nome do deputado em que votaram na última eleição". O eleitor não sabe quem elegeu e isso dificulta em acompanhar o desempenho do político. O modelo do voto distrital, como nos Estados Unidos e Inglaterra, chega a restringir o número de candidatos a até um por partido. A vantagem é que, a proximidade do eleitor com o político faz com que o povo possa acompanhá-lo e assim cobrar providências devidas. Para o cientista político do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos, José Luciano de Mattos Dias, o político não possui comprometimento com a sociedade. "Aqui (Brasil) o parlamentar já entra na Câmara sem ter o menor compromisso com quem lhe deu o voto", comenta.

Os próprios políticos confirmam que falta empenho deles em relação à sociedade. O deputado do Partido Verde (PV) do RJ, Fernando Gabeira, confessa o descaso dos políticos ao declarar: "Congresso está de costas para a sociedade". Com isso, esse mesmo Congresso é encarado com desleixo pelos eleitores. O cientista político Bolívar Lamounier confirma: "Essa concentração faz com que, aos olhos da população, o Congresso seja visto como uma instituição que se dedica ao palavrório". Segundo Lammounier, essa avaliação é perigosa e pode levar a outra conclusão, a de que o Congresso juntamente com seus componentes são totalmente dispensáveis. Mas a pesquisa do Ibope revela ainda que a maior parte dos brasileiros sabe separar a instituição dos que a compõem. Em outra pesquisa, do Instituto Latino barômetro, feita no Paraguai, Panamá, Bolívia e Equador, a porcentagem da população que afirma que a democracia pode funcionar sem deputados e senadores é menor do que no Brasil.

Visão da política em outros países

As desconfianças com os políticos corrompem as fronteiras. Mesmo em países culturalmente avançados, com democracias organizadas, o grau de confiança na classe gira em torno de 30%, conforme dados do Instituto Eurobarômetro. Para esclarecer essa premissa o cientista político do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Jairo Nicolau, diz: "é a crescente concentração de poderes no Executivo, mesmo em países parlamentaristas". Para complementar, a também cientista política Lucia Hippolito, diz que: "os políticos já não detêm o monopólio da representação. ONGs, Igreja, mídia e universidades também cumprem esse papel”.

Atendendo ao déficit de conhecimento da população brasileira em relação à política nos Estados Unidos, sites jornalísticos como o Portal G1 e Folha Online explicam os detalhes da política no país norte-americano. Os jornais brasileiros utilizam-se de critérios minuciosos para informar o povo brasileiro, mas a maioria não se interessa por informações políticas de outros países. O portal de notícias da Globo G1, por exemplo, explica no dia 26 de dezembro de 2007, com infográficos, tabelas e jogos sobre o sistema estadunidense de eleições.

O professor de Sociologia do colégio Unasp, Elias Gonzalez analisa a falta de conhecimento dos brasileiros sobre a política norte-americana como um problema. Para ele, o país deveria conhecer a forma como os políticos da terra de Hillary Clinton e Barack Obama governam, pois sua política exercer uma forte influência sobre o Brasil. “ O que acontece por lá pode ter reflexos não somente para o Brasil, mas para o mundo todo”, analisa Gonzalez.

Na Revista Veja, os políticos foram classificados pelos eleitores de modo direto e hostil. Eles denominaram a classe em sete pecados. São eles: leviandade, desonestidade, avareza, preguiça, alienação, intocabilidade e formação de quadrilha. De acordo com que Nogueira citou, deve-se ao menos “lembrar o nome do deputado em que votaram na última eleição” para então julgar com propriedade.

texto publicado originalmente no Canal da Imprensa

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