O Referendo ao Desarmamento foi uma campanha do Governo Federal em que todos os eleitores do País tiveram que decidir em abolir ou não, a compra de armas de fogo no Brasil.
Diversas mídias se posicionaram frente a essa votação e ocuparam o papel de formadores de opinião pública. A parcialidade não houve diante dessa campanha. A função de informar e mostrar os dois lados da situação não aconteceu por parte da maioria das mídias.
Em geral, o posicionamento das principais mídias estava escancaradamente a favor do “Sim” ao desarmamento. Muitos anúncios publicitários, jornais, revistas e programas de televisão e rádio se posicionavam em campanhas que estampavam junto com o “Sim”, imagens relacionadas à paz. Foi um apelo ao que a mídia julgava ser correto e não a opinião do povo.
A Revista Veja, publicou também a sua opinião. Em contraposição ao que as demais mídias expunham, a revista defendeu o outro lado. O “Não” foi capa da edição do dia 5 de outubro de 2005, contextualizado na seguinte frase: “7 razões para votar NÃO”. Abaixo disso outra frase dizia: “A proibição vai desarmar a população e fortalecer o arsenal dos bandidos”. Além das frases, a capa possuía a ilustração de um jovem no meio de muitas armas com as mãos em forma do símbolo da paz (pomba).
O assunto ocupou a parte central da revista em uma reportagem especial. O título “Referendo da fumaça” estava estampado na primeira página da matéria. No início da reportagem, Veja expôs claramente sua opinião: “VEJA acredita que a atitude que melhor serve aos interesses dos seus leitores e do país é incentivar a rejeição da proposta de proibição. O sucesso de uma consulta popular deriva, antes de mais nada, da correção e da honestidade da questão a ser respondida pelos cidadãos. A pergunta que será feita no referendo das armas é um disparate. Ela ilude o eleitor. É uma trapaça, pois, mesmo que o SIM vença por larga margem, "o comércio de armas de fogo e munição" no Brasil vai continuar sendo exercido com todo o ímpeto pelo contrabando em nossas porosas fronteiras e pelos eficientes agentes do mercado negro – alimentado em grande parte pelas próprias autoridades policiais encarregadas de desbaratá-lo”.
Apesar de alguns “achismos”, a revista se embasou também em pesquisas mais consistentes e declarou os sete motivos pelos quais defendia sua idéia. Divididos em subtítulos, com textos explicativos, são eles:
- Os países que proibiram a venda de armas tiveram aumento da criminalidade e da crueldade de bandidos.
- As pessoas temem as armas. A vitória do “SIM” no referendo não vai tirá-las de circulação no Brasil.
- O desarmamento da população é historicamente um dos pilares do totalitarismo. Hitler, Stalin, Mussolini, Fidel castro e Mao Tsé-Tung estão entre os que proibiram o povo de possuir armas.
- A política brasileira é incapaz de garantir a segurança dos brasileiros.
- A proibição vai alimentar o já fulgurante comércio ilegal de armas.
- Obviamente, os criminosos não vão obedecer à proibição do comércio de armas.
- O referendo desvia a atenção do que deve realmente ser feito: a limpeza e o aparelhamento da política, da justiça e das penitenciárias.
Em outra edição da revista no dia 26 de outubro de 2005, foi publicado em sua capa a seguinte frase: “7 soluções testadas e aprovadas contra o crime”, acima disso a frase: “Depois do referendo, vamos ao que interessa:” e a ilustração de duas armas, saído destas as palavras “Sim” e “Não”.
Na parte interna da revista seguia o artigo com o seguinte título: “Depois de brincar de referendo, é hora de falar sério”. A revista se posicionava mais uma vez e dizia: “... O referendo das armas no Brasil tem algo dessa ilusão coletiva de que se pode vencer um inimigo poderoso, o crime violento, apenas pela repetição de mantras e mediante sinais feitos com as mãos imitando o vôo da pomba branca da paz. Infelizmente a vida real exige mais do que boas intenções para seguir o vetor do progresso social...”. Visto que essa edição viera após a votação, a revista concluiu o assunto com a citação: “Enquanto esse tráfico não for interrompido, podem ser organizados milhares de referendos e o problema do crime continuará do mesmo tamanho”.
O posicionamento da Revista Veja denotou muita critica por parte da mídia. O articulista Alberto Dines, publicou no site do Observatório da Imprensa no mesmo dia em que saiu a primeira edição da revista sobre o Referendo, o texto “Mimos da Veja” e afirmou:
“A matéria de capa da Veja (nº 1925, 5/10/2005, págs.78-86), sob o título geral
"7 razões para votar não", é um clássico do jornalismo panfletário, capaz de
convencer alguns indecisos por algum tempo e confundir outros para sempre.Para
começar: a matéria é prepotente e precipitada. Deliberadamente facciosa, sequer
tenta uma isenção formal. Neste início da temporada de debates sobre o referendo
das armas, com ainda três edições antes do 23 de outubro, ao invés de ensaiar
uma progressiva troca de idéias capaz de suscitar o contraditório e algum
esclarecimento antes de se acionar a urna, a revista berra para o leitor – ‘Cala
boca, você não sabe nada’”.
O mesmo articulista citou no dia 11 de outubro de 2005 no Observatório da Imprensa, o texto do ouvidor da Folha de SãoPaulo, Marcelo Beraba, que dizia:
"A imprensa é pelo sim, só que isso é escamoteado" e "Se a matéria de Veja fosse
‘Sete razões para você votar no sim’ não teria causado o escândalo que causou".
Dines afirmou ainda no mesmo artigo: “Aquela matéria de capa de Veja (nº 1925,
5/10/2005, págs.78-86) representa um exemplo de mau jornalismo e péssimo serviço
público. Mas graças a Marcelo Beraba ela suscitou um debate que precisa
estender-se até o início da próxima campanha eleitoral”.
O articulista, ao expor sua opinião no artigo fez exatamente o que condenou na revista, se posicionou diante da situação. Notoriamente a opinião deste se fez pelo “sim”, mesmo talvez, sem querer expressar isto.
A revista foi criticada pelas mídias porque não concordou com a opinião e as campanhas feitas por elas. Mas de certo modo, fez, mesmo que de forma “maquiada” o que as outras mídias fizeram: a manipulação da opinião pública.
O Referendo passou e hoje nem sequer há discussão sobre o que há dois anos era um grande problema para o País. O que continua na atualidade é a aceitação de tudo que vem da mídia, sem ao menos criticar e analisar o fato independente. O povo precisa entender que opinião é direito e uma boa crítica não faz mal a ninguém.
Observatório da Imprensa: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/
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