Quem "te" chamou aqui

“Dólar comercial cai em 0,85%” e “Ipea eleva previsão de inflação para 4% neste ano”. Fatos na economia mundial acontecem a todo segundo no mundo inteiro. E compete aos jornalistas ajustar os acontecimentos diante de mudanças repentinas. Como, por exemplo, a instabilidade do dólar - que passados dois minutos da notícia acima, caiu para 0,63%.

Informações como essas são diariamente lançadas e atualizadas por editorias de economia dos principais jornais do País. Entre elas, cabe destacar o caderno de Dinheiro da Folha Online. Sua linha editorial apresenta regras para tratar com os temas de modo técnico e sofisticado e evitar o uso de jargão ou linguagem cifrada. Mas isso não ocorre. Ou ao menos, raramente evitam. Palavras como liquidez, protecionismo e contingente podem ser encontradas nas matérias feitas pelo caderno. Termos como pregão, cotas e tarifas alfandegárias são apresentados para que somente economistas e estudiosos na área apreciem com clareza, pois os cidadãos, em geral, tornam-se leigos ao assunto explícito dessa maneira. Assim, o jornal acaba delimitando seu público-alvo.

A proposta de linha editorial do Caderno de Dinheiro da Folha é inicialmente interessante, mas infelizmente não se aplica com eficácia. Mesmo pessoas que possuem certa noção sobre economia se confundem ao deparar-se com uma infinidade de números e estatísticas sucessivas. Os parâmetros jornalísticos são estabelecidos de forma limitada por parte de quem constrói as matérias.

Vocábulos repetidos continuamente desestruturam as frases, e dão a impressão de que o período já foi lido. Frases como, “por isso as montadoras que vendem utilitários apresentam depreciação maior, pois esse tipo de veículo tem maior depreciação”, da matéria “Carro equipado desvaloriza mais que básico após um ano de uso”, publicada em 18 de setembro deste ano, mostra o despreparo na construção e transmissão da informação. Além disso, a palavra “depreciação” aparece cerca de sete vezes ao longo do texto com apenas seis minúsculos parágrafos.

É notável que a Folha opte em “informar a todo instante”. O Caderno de Dinheiro apresenta um índice constante de notícias e isso faz com que se torne interessante o acesso, pois apresenta uma atualização imediata dos fatos. Empresários, economistas e investidores podem se manter informados a todo instante a partir do que é veiculado. É lamentável que haja apenas uma adequação ao índice de informações e não em relação à estrutura textual. Independente do assunto, qualidade no que se lê é imprescindível.

Visual Econômico

O uso de infográficos em cadernos de economia serve para deixar a matéria acessível para um melhor entendimento. Esse tipo de ilustração foi adotado pelo Caderno de Economia do O Globo Online, e faz com que o site seja participativo e visualmente atraente. Já na Folha Online, o uso do mesmo se limita a uma tabela com links referentes à cotação do dólar, euro, Bovespa e Nasdaq. O Estadão, em seu Caderno de Economia, também adota uma linha. Sem esse tipo de material visual, prefere dar ênfase aos acontecimentos econômicos ligados à política.

A Folha se distingue dos demais jornais por sua linha diferenciada de reportagens que é direcionada exclusivamente ao dinheiro e investimentos. Como exemplo, no dia 23 de setembro de 2007, uma das matérias intitulava “ Investidores favorecem mercados emergentes ”. Normalmente, a matéria principal do caderno tem relação direta com o leitor e mesmo que apresente forte fundamentação econômica, tenta equilibrar essa linguagem, dando uma abordagem mais próxima do público. Tanto que o caderno é chamado Dinheiro e não Economia.

Uma ênfase a esse conceito foi a adição ao jornal do suplemento semanal “Vitrine” no último domingo (22), que trata exclusivamente sobre compras no Brasil e no exterior. Esse fato faz com que comparações com outros jornais sejam desiguais. Em geral, os jornais abordam fatos político-econômicos.

Economia, dinheiro e política são assuntos cotidianos de cunho popular. Falar sobre isso requer informações sobre o assunto. E, é exatamente isso que a população espera. Entretanto com notícias claras e diretas, de fácil entendimento, que mostrem, por exemplo, os motivos da greve dos Correios ou o porquê da empresa aérea Gol investir na Bovespa. Porém, antes de tudo, que explique o significado de Bovespa.

Artigo publicado originalmente no Canal da Imprensa, em
27/09/2007

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