Pecados tropicais

Carícias, agarros, longos beijos e excitação. Esse conteúdo erotizado não faz parte de nenhum filme indicado para maiores de 18 anos. Na verdade, situações como estas são expostas freqüentemente na telinha de qualquer família. Basta ligar o televisor e esperar a novela começar.

"Sou 'profissa' de 'catiguria'", corrige a vulgar Bebel, interpretada pela atriz Camila Pitanga, em uma conversa com Marion ( Vera Holtz) na qual a chama de profissional do sexo. A personagem ilustrada pelos autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares na trama das 21horas, da Rede Globo, denota um perfil sensual e extravagante. Roupas curtas de cores chamativas e o clássico batom rosa choque estampado na boca despertam a atenção do público. Paraíso Tropical, que no trocadilho poderia tranquilamente se chamar "Paraíso Sexual", explora o universo lascivo na interpretação de certos personagens.

Na cama com mais um cliente, a câmera dá o "close" nas costas da personagem, que sutilmente desabotoa o sutiã. Novamente enfoca o rosto de Bebel, que demonstra gostar do que faz. Entre um expediente e outro, a moça ainda arranja tempo para satisfazer os desejos do cafetão Jader (Chico Diaz) e garantir algumas vantagens. Em um episódio, esfrega-se em seu patrão e diz: "Eu sou 'cara', tá?". Sendo assim, ganha o posto de ser "exclusiva", como a própria personagem diz, do empresário Olavo (Wagner Moura).

O vocabulário trivial empregado na novela denota o apelo sexual feito pelos autores. Expressões como "sua vadia", "cueca manera", "vagaba" e "fogo no rabo" passam corriqueiramente entre um capítulo e outro. Cenas de sexo em que a prostituta aparece na cama com o amante Olavo são mostradas de forma implícita.

As cenas sensuais escondem-se por trás das tramas policiais abordadas na novela. O grande questionamento sobre a morte de Taís (Alessandra Negrini) fez com que os capítulos quentes de Bebel passassem quase despercebidos pela mente do telespectador. Tanto que a polêmica sobre prostituição no Brasil não entrou em questão. O comércio sexual em nosso País não foi abordado, sendo que, seria esta uma grande oportunidade para debater o tema. O que Paraíso Tropical fez foi divulgar as "curvas" das belas mulheres brasileiras e propagar o tráfico para o exterior.

O jornal Extra, do dia 27 de setembro deste ano, expôs em uma nota o seguinte título: "Bebel, a princesa do povo". A matéria relata sobre a popularidade da personagem e ressalta que seu jeito bem-humorado fez até seus erros gramaticais ganharem espaço no cotidiano do povo.

Em outra trama, também da mesma emissora, a luxúria ocupa destaque entre os demais pecados. A novela do autor Walcyr Carrasco, não poupa em insinuações sensuais. Linda, rica e extravagante, a personagem Beatriz (Priscila Fantin) não economiza na sensualidade para conseguir tudo o que deseja. Mesmo se o que almeja é um homem casado, no caso, Dante (Reynaldo Gianecchini), que é seduzido após muitos planos de conquistas elaborados pela maliciosa "patricinha".

O primeiro capítulo de Sete Pecados já indicava a forma em que a luxúria atuaria. Beatriz, então namorada de Pedro (Sidney Sampaio), é flagrada aos agarros com outro homem em uma praia. A insinuação de sexo é clara, tanto que o próprio namorado esbofeteia a personagem ao assistir a cena da traição. Esse enredo fez alusão a um fato que estava sendo debatido na mídia naquele momento. Certa modelo (da vida real) fez algo semelhante com seu namorado em uma praia da Espanha e foi flagrada por um paparazzo. O mais interessante é que a avó de Beatriz diz não ter achado nada demais, assim como a avó da modelo na situação real. Esse caso comprova que valores morais e familiares estão cada vez mais deturpados diante da sociedade.

As roupas justas e curtas de Elvira (Nívea Stelmann), o figurino provocante de Ágatha (Cláudia Raia) e os modelos deslumbrantes de Rebeca (Elizabeth Savala) fazem com que o telespectador abuse da condição de pecador. No enredo da trama tem até uma anja "tarada" e obsessiva para ver a "tatuagem" do DJ bonitão. Custódia (Cláudia Jimenez) abusa de técnicas nada celestiais para seduzir Adriano ( Rodrigo Phavanello).

Sensual num país tropical

Localizado boa parte na zona da linha do equador, o Brasil possui clima tropical e temperado. Essa atmosfera, em geral, justifica o uso de roupas curtas e então, sensuais. A exposição dos corpos desperta no povo um hábito propenso a sensualidade. E isso é retratado claramente nas novelas da Rede Globo. Personagens assim marcam a história da telenovela do País. Quem não se lembra da Lurdinha de América em 2005? Cléo Pires, que interpretava a meiga e insinuante amante de Glauco (Édson Celulari), ficou conhecida pela expressão "Oi tio!", na qual conquistou o empresário e também os telespectadores. Os másculos irmãos Sardinha, interpretados por Cauã Reymond, Pedro Neschiling, Reynaldo Gianecchini, Caio Blat e Leonardo Brício da novela Da cor do pecado, exibida em 2004, também chamavam a atenção pelas roupas litorâneas e os excitantes beijos nas belas atrizes da trama.

No país do Carnaval (que também é divulgado nas novelas), os conteúdos ardentes sempre fizeram parte dos enredos das tramas. Mulheres seminuas sempre estiveram em exposição, seja a Rainha da Sucata (1990) ou até mesmo a Senhora do Destino (2004), na briga por audiência Vale-Tudo (1988). Na Indomada (1997) tendência ao erotismo, tudo pode acontecer. É só esperar e conferir.

Texto publicado originalmente no Canal da Imprensa

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